Nada mais na moda do que falar em gozo.
Parece que todo mundo goza quando fala em gozo.
E o pior, é que muito pouca gente goza.
Gozar, de verdade, é uma arte rara, extremamente prazerosa, que requer
algo mais que fluidos, mão, língua e ereção. Isso
é ejaculação (feminina e/ou masculina). Gozo é outra
coisa.
O gozo nunca é solitário.
A ejaculação pode ser, se for proveniente de masturbação.
E pode ser até a dois e, mesmo assim, sem gozo, como no caso de uma transa
qualquer.
O gozo não, ele nunca é solitário, mesmo quando se goza
sozinho. E quem já gozou sabe do que falo. Não se trata de eliminação
de líquidos corporais e um friozinho na espinha e mais um monte de sensações
localizadas. Nada disso. O gozo não é do corpo, ele é da
alma.
Um pôr-do-sol pode fazer nos gozar sem que nos toquemos, apenas o sol
nos toca, com seus raios já titubeantes, exaustos de nos proporcionar
calor, luz, alegria.
Posso dizer que nunca gozei tanto, quanto quando vi a carinha de meus filhos,
logo após o nascimento. Ah, irão me acusar de incestuosa! Se assim
for, nós, mulheres, estamos perdidas... Jocastas imperdoáveis!
Qual mulher não goza freneticamente, quando seu filho fala a palavra
mamãe pela primeira vez? Ou quando ele, já crescido,
passa num concurso? Ou quando tem sua primeira descoberta de amor, ou decide
seus caminhos, escolhe companhia para sua trilha na vida, ou quando alça
vôo seguro, baseado nos ensinamentos de amor que ela mesma, a mãe,
lhe passou a vida toda?
E qual homem não goza muito, quando encontra a paz no colo de quem sempre
lhe amparou as incertezas, incertezas essas que só ela, a mãe,
sabe e que nunca há de contar pra mais ninguém? Ou quando segura
nas mãozinhas gorduchinhas de seu filho, meio sem jeito de carregar algo
tão frágil e tão seu?
Ou, por que não dizer, seu time de futebol vence aquela partida decisiva
e ele sai à rua, não sem antes arrasar o porteiro do prédio,
que é do time adversário?
Pois bem, já que entendemos o que é gozar, resta-nos saber como
gozar.
É, como.
Isso, gozar fazendo amor.
Como alcançar essa sensação de plenitude, de satisfação
do corpo e do espírito, como se encontrar com Deus através do
gozo?
Já que o gozo é a ejaculação da alma,
antes de tudo é necessário haver sintonia. Precisa-se estar em
sintonia com o objeto do gozo. Precisa-se entendê-lo, admirá-lo,
amá-lo, querê-lo muito e bem, e feliz.
É preciso atingir sua alma através dos olhos, decifrar cada cantinho
escuro, cada encruzilhada, cada senão desses olhinhos desejados. E é
por isso que não basta ser um atleta sexual para gozar. Porque o lance
não é físico, mas muito além disso.
Há a sensação física, sem dúvida, que é
divina e maravilhosa. Mas não chega aos pés do verdadeiro gozo,
daquele capaz de fazer brotar lágrimas de incredulidade, de encontro,
de paraíso.
Quando se goza mesmo, é como se o corpo não estivesse ali, como
se fôssemos apenas o etéreo, o alcance do inalcançável,
o alvo do inatingível, a chegada do que não tem fim.
Há os que dizem que isso é amor. Eu discordo. O amor pode acontecer
sem que se goze.
Para se gozar, na verdade, há uma coincidência de sentimentos
e sensações e, acima de tudo, de disposição, de
sintonia. O exemplo é bem simples: uma mulher que ama loucamente seu
homem, que o deseja todos os dias, que o respeita e admira e que é, da
mesma forma, amada e desejada, de maneira nenhuma conseguirá gozar num
dia que seu filho esteja doente. Não há a disposição
para isso, por maior que seja o estímulo físico. Ela pode, sim,
ejacular, mas, decerto, não gozará.
Cito a mulher apenas por sê-la, mas o homem também não
consegue, tenho certeza.
Portanto, falando em gozo, é melhor experimentá-lo primeiro,
hoje, agora, logo! E que se comece pelo despertar. Que se faça do despertar
um gozo matinal costumeiro. Que se entre em sintonia com a natureza, com o sol,
o céu, a chuva, o vento, o raiar de cada dia. Que não deixemos
o dia nascer sem que nos regozijemos com ele, sem que gozemos. E que passemos
o dia todo assim, nessa aura, para que, mais tarde, quando estivermos em companhia
do nosso amor, possamos passar para ele essa nossa carga, nossa energia positiva
e sedutora, e possamos fazê-lo gozar com nosso olhar, nosso toque, nosso
beijo, nosso sorriso e nossas loucuras de amor.