A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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BREGUISMO

(Géber Romano Accioly)

Sou desses seres que trazem uma sina e por mais que queiram se livrar dela não há satanás que dê jeito, pois desde que me entendo por gente (e já faz bastante tempo) me pego metido na infeliz sina de educar. Digo educar porque difere do ensinar. Aquele que foi ensinado pode esquecer o que aprendeu, entretanto o que foi educado, jamais esquece. O ensino faz parte da educação. Mas deixemos de lorotas e vamos ao que interessa: Breguismo.

Comecei a ensinar oficialmente nos idos setenta (logo no comecinho) à classes de oitava série e por incrível que pareça Latim e Literatura. Em Literatura estudava-se em classe, textos de Vieira, (o Pedir é espetacular) de Platão (alunos meus "dramatizaram" o Crátilo) e outros que não vêm ao caso. Terminei minha jornada com uma aposentadoria forçada (uma aluna "carente" que havia descoberto o seu pai gay e descarregou em mim, segundo a filha da puta da psicóloga, suas frustrações me mandando tomar no...) tentando fazer com que os alunos entendessem "Borogodá" do nosso rei do brega, o Reginaldo Rossi (me dá urticárias) e eles achavam dificílimo de entender.

Quero com estes comentários informar que assisti impotente, políticas governamentais e mais políticas governamentais nivelarem nossa Educação sempre por baixo, até que foi editada em Pernambuco, no governo do Pai Arraia, e pela secretária Silk, a instrução número dois - I2 - (verdadeiro AI5) que praticamente acabava com o currículo escolar quando facilitava obtenção de diplomas de conclusão mediante exames prestados em escolas públicas, mesmo que para isso o "depromado" nunca houvesse pisado em uma escola.

Para acabar de enfeitar o maracá, com o Plano Real, grande parte do povão que vivia à margem da economia pôde com o termino da inflação galopante, adquirir aparelhos de TVs e a "exigir" da chamada mídia aberta em contraponto à mídia por assinatura, "porgramas" para o seu "nirve curturá" e aí Ratinhos, Gugus, Xuxas e outras maravilhas da mídia se transformaram em deuses.

Por falar em deuses não podemos deixar de falar na Record com a Universal e o maior "slogam" do século: Jesus Cristo é o Senhor. Sem contar é claro com a proliferação da seita que mais se difundiu entre as classes menos favorecidas das favelas, por apoucadas, o Pentecostismo. Nivelando a Educação por baixo e estabilizando a inflação em patamares sustentáveis o mau gosto popular subiu mais que peido de aviador e deu no que deu: Breguismo.

Cada vez mais ao sistema oligárquico dominante, interessa uma educação de baixo nível, pois ela forma educadores de baixo nível, que formam cidadãos de baixo nível, que exigem uma cultura de baixo nível e de baixo nível em baixo nível somente quem fica de alto nível é o Breguismo.

Até as seitas evangélicas que primavam pelo bom estudo bíblico (até meados da década de sessenta eu era Presbiteriano Fundamentalista e combatia a exegese dos apoucados adeptos do pentecostes) hoje em dia têm a sua facção brega com o nome de "renovadas" e mesmo o catolicismo tem a sua "carismática".

Temos um governo central que se sente honrado em dizer-se popular, pobre e brega quando "os de língua presa" orgulhosamente exibem os seus "depromas" de ensino médio profissionalizante. O mandatário maior orgulha-se de ser "um prriissidentssi qui num é doto". O Brasil varonil é o Brasil Brega. Nossos diplomados no terceiro grau não são aceitos em outros países devido ao baixo nível de conhecimentos. Ouço pelas bocas de lobos "tropeiros" conclamando os "fiéis" para lerem a "bribia". Impera o apoucamento e se sobressai o Breguismo.

Ser brega é estar na onda. Bicicletas e mais bicicletas-de-som empesteiam o ar com seus anúncios de "dupras bregas", reis e rainhas do brega, e até concertos com "o fino do brega".

Somente com uma política voltada para uma Educação de alto nível daqui a quem sabe trinta anos poderemos vislumbrar uma saída desse famigerado e cultuado Breguismo.

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