A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Feliz infelicidade

(Géber Romano Accioly)

A mim, me parece que ser HOMEM é questão de boas audição e memória, isto é, quando nasci ouvi da parteira: - É HOMEM. Nunca mais ESQUECI. Tendo em vista este ângulo veremos como nós, os "superiores" da espécie, nos relacionamos com os nossos pares "inferiores".

Fazer parte da biosfera como macho não é nada alentador, pois a mãe Natureza tem como prioridade a fêmea e o macho é mais ou menos descartável. Depois de cumprir sua missão como parte da perpetuação da espécie a qual pertence, ele "sobra". (Entre os insetos o macho é totalmente descartável).

Entre os animais ditos superiores como os primatas e dentre estes os símios dos quais provimos (mais especificamente os Bonobos[=chimpanzé pigmeu]) há um hábito entre as fêmeas, de cruzar com todos os machos do seu grupo para que todos criem os seus filhos na esperança que seja unicamente seu. Obs.: este "salutar" hábito está retornando entre as fêmeas liberadas da nossa sociedade atual (segundo a última Tititi do mês de janeiro 2008), mas deixemos de ilações e voltemos ao nosso tema: Feliz infelicidade masculina.

O homem vive a cata de sua companheira idônea (aquela que foi colocada lá no paraíso e depois de conhecer outra serpente que não a do Adão, digo, a serpente que era inimiga do Adão ou sei lá que diabo era.) e quando a encontra descobre que não será mais completo sem a dita cuja. Casa para viver feliz até que a morte o separe (ou pelo menos ele espera).

Nos primeiros tempos (e até antes dos primeiros tempos quando há "merenda antes do recreio") é sexo pra mais de metro, pois casamento pressupõe sexo (muito e a qualquer hora) e a sua recém esposa ainda é aquela amante que "dá mais que chuchu na cerca".

Com o passar dos tempos (poucos tempos) a freqüência começa a cair e nos faz lembrar do Bandeira quando diz: "... Quando as mulheres não amam/Que sono as mulheres têm.". Dores na cabeça e na coluna são as desculpas mais freqüentes.

Se advém prole é um tal de fraldas molhadas e mamadeiras e viroses e trocas de babás (mal sempre necessário, mas devastador) e "cositas mas" que acompanham a vinda dos continuadores da linhagem.

O relacionamento mais importante na vida dos cônjuges (do Latim "+ - quem se une pelo sexo") - o sexual - vai de uma vez pro brejo e lá se atola e morre... Aí a Jurupoca pia e o varão ou se "distrai" fora ou volta ao período da adolescência em que o exercitar do punho era freqüente nos seus devaneios libidinosos com a sua sonhada escolhida. Terrível.

Sua "companheira idônea" se torna cada vez mais "idônea" e tá pouco se lixando para suas necessidades sexuais. Se for do tipo caseiro (e se o casamento se arrastar por décadas) ao pobre "enuncado" se reserva o direito de sonhar e "comer com os olhos". Sexo passa a ser palavra proibida para sua idônea esposa, e um simples amasso é alvo de reprimendas do tipo "-tá pensando que sou uma qualquer?". Por mais que o pobre necessitado de insinue a sua cara metade se mostra mais por fora que o atual mandatário mor. Vez por outra e sempre nos intervalos da TV ela concede uma "rapidinha" depois da clássica pergunta: "-Vai me usar hoje?" Deprimente...

Entre os primatas não sapiens, a fêmea depois de ter dois filhos com um mesmo macho o rejeita para evitar a endogamia (quem sabe se é daí que vem o famoso "chifre" entre os sapiens?) e acho, eu, que com as da última criação divina acontece o mesmo. Depois de ter filhos a idealizada idolatrada amada se torna uma realista e preocupada matrona e o consorte fica sem sorte e sem norte até que a morte os separe.

Enquanto ele permanecer fiel à promessa inicial aos pés do altar, ele manterá uma aparente felicidade e até será convidado pelos outros esponsais para forrar a cama para "a primeira vez" (talvez a primeira vez ali, brincadeirinha).

O novo contrato social cristão está facultando a possibilidade de revogar o "até que a morte os separe", mas ainda há controvérsias, pois permanece o "... o que Deus uniu não separe o homem". Além do mais estamos falando de HOMEM que ama e respeita sua escolhida e seus descendentes e não de homem moderno.

Que fazer? Continuar sendo mais um feliz infeliz na esperança que sua amada idolatrada salve salve meu Brasil, volte a ser a esposa amante dos primeiros anos?(aquela que "dava mais que chuchu na cerca")? Mudar para homem moderno e pular cercas e muros e vales e despenhadeiros...?Tudo muito deprimente para um HOMEM, mas...

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