Ia crescendo em uma família normal onde não havia excessos, nem
de ordem física nem de ordem espiritual. Seguiam os seus familiares,
os usos e costumes normais sem haver preocupações com o transcendental.
Mas um belo dia (hoje sabe que não foi tão belo assim) o transcendental
entrou em sua vida trazido pelo chefe da família que se convertera ao
protestantismo através do presbiterianismo fundamentalista.
Hoje, anoso, ainda lembra do texto sagrado lido em Josué 24: 1 a 28
- A Assembléia de Siquém - com ênfase especial para o versículo
15 "Porém, se não vos parece bem servir a Iahweh, escolhei
hoje a quem quereis servir: se aos deuses aos quais serviram vossos pais do
outro lado do Rio, ou aos deuses dos amoreus em cujo país agora habitais.
Quanto a mim e a minha casa serviremos a Iahweh."
Naqueles idos anos cinqüenta do século passado, como estas palavras
troaram pela sala deixando-o com um sentimento misto de esperança e temor
principalmente porque vieram precedidas de anúncios e mais anúncios
de mudanças radicais: Orações às refeições,
quartas e sextas à noite reunião de orações, domingos
religiosos. (manhã= escola dominical, tarde= evangelização
externa, noite=culto para conversão).
Nos primeiros meses, mesmo com o laser dos domingos, totalmente abolido, (banhos
de mar matinal e cinema vespertino: nem pensar) como tudo era novidade, até
que dava pra levar. Sempre e sempre lhe era lembrada a "escolha voluntária"
com o texto sagrado em 1o Reis18: 20 a 40, - O Sacrifício do Carmelo
- com especial ênfase à aceitação por Iahweh, do
"sacrifício" oferecido por Elias, sua zombaria e a matança
dos quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal. (Como ficava "felize
e confiante").
Muitos e muitos anos se passaram para que pudesse entender o mal que causou
o "Quanto a mim e a minha casa..." em sua vida. Aceitava o autoritarismo
sem questionar se "a casa" estava de acordo, e, o pior: também
era autoritário. Autoritário como fora Josué em não
deixar escolha, e intolerante como fora Elias com os quatrocentos e cinqüenta
profetas de outro deus que não o seu.
Vejo aqui em nossa Usina repetir-se o "autoritarismo e a intolerância"
por parte dos "Josuéis" e "Elias" a partir do momento
que suas opiniões são contrariadas. Quanta agressão gratuita
por parte dos "donos da verdade".Não se pode emitir
uma opinião que não seja "contestada" por uma saraivada
de impropérios os quais, na maioria das vezes, descambam para o baixo
calão. Muitos usineiros usam o "da discussão nasce
a luz" como forma de entendimento, entretanto, por achismo, digo que o
certo seria usarmos "do diálogo nasce a luz". (mesmo
sabendo que perfeito só a Treva Primordial, mas é outra história).
Autoritarismo. Autoritários intolerantes! E se dizem "cristãos
e perdoadores". Autoritarismo.