É triste! É realmente muito triste constatar que, com o passar dos anos,
progressivamente, vou perdendo a capacidade intelectual e cada vez mais e
mais vou sendo atingidos pela demência.
Era moço e o meu raciocínio era rápido e eficaz, sou idoso e não mais
entendo com a presteza e eficácia necessárias.
As coisas simples e corriqueira, para que sejam compreendidas em toda sua
profundidade, me causa canseira pelo esforço despendido.
Fica muito difícil entender a intelectualidade que há em um programa de
auditório do tipo "Domingão do Faustão" ou "Domingo Maior" e quejandos, pelo
simples fato de não mais entender o alto nível cultural a que se propõem.
É duro! É muito duro não mais conseguir captar as sábias mensagens de uma
Ana Maria Braga, de uma Hebe, de uma Xuxa, de uma Eliana, e quejandas por
absoluta falta de entendimento de minha parte.
Não entender os edificantes ensinamentos grafados em uma "Amiga", em uma
"Querida", em uma "Quem" é realmente frustrante para, mim, anoso demente.
Não sabem os moços o esforço que faço para tentar captar as sublimes
mensagens do Ratinho, do Pedro Paulo, do Nelson Rubens, e pares em virtude
da minha acentuada deficiência intelectual.
Não mais sentir, em virtude da progressiva demência que vai se apossando de
mim, a magnífica mensagem de uma "Amor de Rapariga" ou "Moranguinho do
Nordeste", não mais nos me deleitar com a melodia de um "Amor, i love you",
não mais ficar encantado com "Vai descendo na boquinha da garrafa" ou
"Cuidado com a vassoura que é pior do que cenoura" me dá a certeza de que
realmente estou superado.
Não consigo entender o cuidado com a minha salvação espiritual que têm os
nossos líderes intelectuais, as nossas autoridades políticas que me mantém
sempre pobre, pois se rico, certamente arderia no "Lago de fogo e enxofre,
onde só há pranto e ranger de dentes".
Não entender por progressivo apoucamento, dos modernos relacionamentos
conjugais onde não se sabe quem é quem, não perceber o sublime que há em um
"casamento aberto", não perceber o de magnânimo que há em um par no qual a
idade de um deles é duas, três, quatro vezes maior que a do outro é por
demais constrangedor.
Não entender o quão de maravilhoso e transcendental há em se merecer todos
os itens das bem-aventuranças causa em mim uma dor maior que a dor de
candidato político derrotado pelas urnas.
Felicidades, prazeres, belezas e alegrias modernos não são, por mim,
entendidos pelo simples fato de estar constatando que infelizmente, estou
ficando demente e apoucado. Ou não?!