- Claro que eu vi! Claro que eu vi! Juro que vi!
Repetia a todo instante, mas ninguém lhe dava crédito.
É certo que em sua vida pregressa merecera algum crédito, mas,
agora: Professor da Rede Estadual do Ensino Público, com mais de sessenta
anos e, estando aposentado. Quem iria lhe dar crédito?
- Juro que eu vi! Pela primeira e única vez, mas juro que vi!
Tanto que repetia e repetia e repetia que um menino de rua (um cheira cola por
necessidade, mas não portador do gene que o tornaria mais um carente,
que iria servir de insumo para milhares de políticos profissionais e
administradores do sagrado e autoridades corruptas e tantas outras rapinas que
certamente lhe prometeriam empregos e paraísos e uma vida fácil)
parou para ouvi-lo.
- Tio, me diga como foi.
- Foi assim: Eu ia subindo o morro em direção ao meu barraco,
que fica lá por traz do lixão quando de repente, "não
mais que de repente", deu um pé de vento e eu vi um objeto esverdeado
e achatado voando em minha direção e mais ou menos a dois metros
do chão.
- E aí, Tio, o que o senhor fez?
- Eu o mais rápido que pude, pois ele havia caído bem na minha
frente, me abaixei para segura-lo, mas...
- Mais o quê, Tio?
- Aí deu outro pé de vento e ele decolou. Eu me espichei todo
para tentar pagá-lo quando ele passou por sobre a minha cabeça,
mas infelizmente, ele passou tão rápido que não deu tempo
de segurá-lo e ele sumiu morro acima. Mas eu ainda pude vê-lo muito
nitidamente.
- E como ele era, Tio?
- Ele era assim como uma nota de um real, mas era azul, menos amassado, e tinha
dois zeros.
- Como uma nota de real, azul, e com dois zeros? Tio, o senhor está vendo
coisas. Nota de um real com dois zeros, ela não existe, e além
do mais: Azul! O senhor viu coisa!
- Creia como há Jesus no Paraíso como eu vi!
- Jesus? Paraíso? Nota de real, azul e com dois zeros? Tio, o senhor
precisa de um Psiquiatra!
- Mas eu vi, eu juro que vi! Eu vi. ... Eu Vi?