A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O Macaco Individualista

(Géber Romano Accioly)

"... E o animal inferior que urra nos bosques
É com certeza meu irmão mais velho!".
(A. Anjos)

De nada nos adianta nos aproximarmos do nosso próximo se na realidade o que mais importa a nós, é sobrevivermos dentro da máxima: "Cada um por si e Deus por todos" que na prática se transforma em: Cada um por si e Deus também.

Temos de aprender de uma maneira ou de outra, que quanto mais nos distanciarmos do nosso próximo e nos tornarmos individuais mais estaremos fortes e aptos a sobreviver e, paradoxalmente, poderemos nos aproximar cada vez mais do nosso próximo.

De nada nos adianta viver se não entendermos a importância da individualidade. Não falo apenas da individualidade de estarmos sós, mas da individualidade absoluta. Da individualidade que nos faz fortes o bastante para contarmos apenas conosco, pois no ser individual está a força e no ser coletivo esta a fraqueza.

Nos tornamos coletivos à medida que nos sentimos fracos e inseguros, e nos aproximamos do nosso próximo na esperança vã de adquirirmos segurança e força. Esse coletivismo nos sai caro à medida que cada vez mais ficamos inseguros e dependentes. Somente a segurança da coletividade nos torna fortes. Ledo engano!

Teremos de abstrairmo-nos e procurarmos entender a individualidade do Perfeito Só (melhor nome que encontrei para o Supremo Tudo).

A condição "sine qua non" para que possamos percorrer os caminhos que teremos, quer queiramos ou não, de percorrer é sentirmo-nos absolutamente individuais.

Na nossa corrida evolucionária diferentemente dos bem sucedidos insetos sociais que valorizam a coletividade, nós optamos pela individualidade. A individualidade aponta para a evolução e para a força.

Devemos entender que cada instante de nossa existência é absolutamente individual, mesmo que se nos afigure como coletivo. Nossa historia deverá ser escrita "sine ira et studio" e individualmente.

Definitivamente evoluímos a partir do momento que entendendo a nossa própria individualidade e com ela, convivendo perfeitamente, possamos entender o nosso próximo e com ele conviver.

Sermos absolutamente individuais nos dá a certeza de podermos estar com o próximo e de não interferirmos e não nos contaminarmos com sua individualidade. Cada individualidade deverá ser, portanto, individual e intransferível para que seja única e perfeita.

O estar bem, o ser feliz é algo que se tem de viver. Tem-se que sentir. Ninguém pode ser feliz ou sentir-se realizado pelo próximo. A felicidade é algo individual, intransferível, inevitavelmente pessoal.

Toda forma de coletividade é sintoma de egoísmo. Buscamos no outro o bem estar, o prazer pessoal. A felicidade em um grupo nada mais é do que vários indivíduos buscando sua própria felicidade, egocêntrica e individualmente. É a simbiose de ególatras. Seria a amizade?

Somos a parte que buscamos em um todo, feito de várias outras partes, a parte que nos levaria a compreender nossa parte como um todo. Somos seres que ironicamente buscamos nosso perfeito só em um todo social. Queremos nos sentir felizes, individualmente, nos lembrando dos momentos que tivemos em companhia de outros?

A fraqueza da coletividade é tamanha que faz a quem a ela adira cada vez mais dela fique necessitado a ponto de se tornar uma espécie de prosélito, de sectário.

Optamos pelo individualismo como forma de sobrevivência dentro da coletividade e cada vez que perdendo essa individualidade, nos tornamos coletivos, tendemos a enveredar pelo caminho sem volta da nossa própria destruição. A ignorância de nossa opção pelo individual faz com que os mais fracos se tornem dependentes dos mais fortes e esses mais fortes, na maioria das vezes, usam sua força para a dominação.

Miríades e miríades de seres que buscam segurança e força na coletividade fatalmente acabam como fantoches nas mãos dos que entenderam que a força está na individualidade, mas que, infelizmente, a empregam em seu próprio benefício.

Para que possamos realmente evoluir nunca devemos esquecer que a coletividade torna o indivíduo fraco e que a verdadeira fortaleza está na individualidade.

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