A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

O Primeiro Líder

(Géber Romano Accioly)

O Sol é para todos; a sombra, para o mais sabido (Pop.)

Todos faziam tudo. Local ideal para se viver bem: Víveres em abundância, segurança perfeita, lazer adequado, igualdade, liberdade, fraternidade, virtudes sem vícios, nenhuma proibição – verdadeiro Poder Judiciário.

A vida corria tranqüila, sem maiores percalços, entretanto havia um local especial, com uma sombra paradisíaca, que era, por todos, desejada, mas não dava para todos.

Um do grupo, que era observador e não estava a fim de passar toda a vida pegando no pesado, pensou com seus botões: – Tenho de arrumar um jeito de me manter o maior tempo possível em àquela sombra sem estar saindo para prover-me e fazer com que o resto trabalhe pra mim. Mas como faço se todos temos os mesmos direitos e deveres? Se eu fosse o mais forte baixava o pau (como as "otoridades" militares), se eu fosse o mais rico distribuía propinas (como a classe política), se eu fosse o mais sábio... (bom se eu fosse o mais sábio não iria querer passar a perna nos demais, pois saberia que é errado). Não faz mal: Esperarei uma oportunidade, pois os fins justificam os meios.

Como ele era observador começou a prestar mais atenção aos demais e percebeu que à noite, ao redor da fogueira, o papo que mais rolava era fenômenos naturais (chuva, raio, trovão) e a imensidão do Universo.

– Não diga! Berrou a plenos pulmões, uma certa noite, ao calor da fogueira.

– Quequeisso, Cara, pirou foi? Indagou o que estava mais perto.

– Não, nada não, somente um negócio cá comigo, nada de importante.

– Eu hem! Comentou outro, que, juntamente com os demais, ficou com uma pulga atrás da orelha. – Estou achando que este finório está querendo algo e com certeza vai conseguir, pois já semeou a duvida entre todos e por certo algum ingênuo apoucado lhe dará ouvido, mas...

Os dias foram passando e sempre era inquirido, por um ou por outro, sobre o danado do – Não diga! – inexplicável.

– Nada, Amados, apenas uma força estranha fez com que eu fizesse aquilo e acho que no segundo – Não diga! – eu serei informado, e...

– Menino, não diga que haverá um segundo – Não diga?

– Well! Foi assim que entendi, mas deixemos isto pra lá, pois não quero saber de mais nada e ce fini.

Algum tempo passou e uma seca se abateu sobre aquele local. Uma noite, ao redor da fogueira, foram surpreendidos com uma chuva com raios e trovões e um raio caindo por perto ainda chamuscou o "talento" de uma "tinhazinhada". Todos abrigados começaram a especular:

– Viu que coisa! O céu limpo, cheio de estrelas e um toró daqueles!

– Num é mermo, Cara, qui coisa estranha! De onde será que veio? Quem mandou? Quem, quando, onde e por quê?

Enquanto estavam nesse qüiproquó um segundo – Não diga! – berrado por quem berrou o primeiro, (que jazia estático e duro que nem "pitoca" de noivo), retumbou pela caverna onde todos estavam abrigados. Foi um +-+-+ nos acuda (ainda não tinham inventado Deus) e correu nego pra todo lado. Até um pobre de um professor anoso e inativo, que estava dando uns "amassos", em uma sacrossanta pudica e pudibunda esposa de um amigo, lá no fundo da caverna, pois estava sobre os "paradisíacos eflúvios" do Viagra, saiu em desabalada carreira, aos baques, somente sendo encontrado ao amanhecer do sexto dia, e mais quebrado que arroz de terceira.

Depois dos ânimos serenados e do "berrador" ter voltado ao normal, e estar com a cara mais lisa que adolescente evangélica grávida, todos quiseram saber o por quê do segundo – Não diga – e desta vez o agora "sabido" desandou a falar.

– Seguinte é este: Aquele raio, que chamuscou o "forever" da nossa irmã, foi enviado, como aviso, por um Cara Superior, que mora lá em cima, e se comunicará, a partir de hoje, por meu intermédio, pois tem notado que todos querem aquela sombra e que esta querência está causando um certo mal estar entre todos. Se continuarem com esta querência pecaminosa a seca irá se prolongar até...

– Escolhido, que poderemos fazer para evitar que isto aconteça? Falou, interrompendo, o segundo agora mais sabido (que também queria estar no bem bom da sombra) em nome de todos.

– Well! O Cara Superior, (salve, salve) falou se vocês deixassem aquela sombra para que eu (somente eu) permanecesse por mais tempo lá, certamente eu iria receber as instruções do Cara Superior (aleluia) para fazer voltar as chuvas e transmiti-las a vocês, babacas, digo, Amados. Que acham?

– Concordamos, é claro! Apressou-se em falar o segundo em "sabedoria" e em nome dos demais que estavam mais desorientados que cachorro em caminhão de mudança. O Local será seu para que possa receber as instruções dadas pelo "Cara Superior", (aleluia) para nos instruir de agora em diante.

Mesmo havendo a oposição do outro que teceu comentários sobre ele ser um finório e ter plantado dúvidas, quando do primeiro – Não diga – venceu a maioria "caboeleitorada" pelo segundo em "sabedoria" e...

– Já que "todos" concordam aceito a "difícil e penosa" tarefa de ser o Escolhido para liderá-los nesta perigosa jornada que é o reencontro com o Cara Superior, entretanto, contudo, todavia, porém, mas há algumas exigências e...(daí pra frente os que não são apoucados já entenderam onde quero chegar e de qual tipo de "líder" falo).

Agora racionalmente, pergunta-se: Pra que diabos serve o líder senão para se aproveitar dos liderados apoucados?

Seja seu próprio líder e não depute nada a quem quer que seja, ora.

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente