Em faina doméstica, movida pelas circunstâncias da própria incompetência, percebo a existência de indicadores que marcam inícios. Também os percebo como indicadores que marcam términos ou pelo menos a proximidade com eles. E em se tratando do estar aqui, em contraponto com o não estar aqui, um desses terríveis indicadores é a panela queimada.
– Não é possível! Novamente?! Como pude me esquecer!? Será que tenho sempre de me lembrar de tudo!? Ô vida!!!
Terrível. Terrível mesmo ouvir-se este monólogo, principalmente quando quem o profere e a pessoa amada. Os anosos ouvimos o que não queremos ouvir e vemos o que não desejamos ver.
Sentimos a frustração que se nos abate em sabermos de estar-se totalmente impotente diante do que representa uma panela queimada.
Por certo ter uma panela queimada, um tanque transbordando, um objeto “perdido” vez ou outra não é privilégio somente de anosos, mas os ter constante e indesejavelmente é “exclusividade” dos que temos os “maus dias... sem contentamentos”.
Qual a finalidade de uma panela queimada se não a de por em dúvida os atributos do nosso autor. Foi criada uma obra efêmera e mal acabada. Que artesão se vangloriaria dessa obra prima? Por certo não seria um onisciente, onipotente e onipresente oniparente sem que fosse um onissádico.
Ao “arear” uma panela queimada para que fique “novinha em folha”, tristemente o faço, e, tomando consciência da fugacidade da vida, lastimo a inexperiência do meu artífice e o perdôo.