A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Abstrato x Concreto
(Lei 7653/88)

(Géber Romano Accioly)

Há de se convir que o ser vivo sempre aprende e, a partir do momento da aprendizagem, muda seu comportamento até que haja nova aprendizagem, e com uma outra mudança de comportamento etc., etc.,...

Para que se aprenda algo e conseqüentemente mude-se o comportamento muitos fatores contribuem, mas o mais "definitivo" é o... experimentar concretamente. (Pelo menos para mim é assim que funciona).

Conselhos, admoestações, ameaças, imposições, códigos, leis, são item destinados a informar ao indivíduo como ele deve se portar diante das situações que se apresentam, entretanto sem algo concreto, palpável, de nada adianta: Não muda-se o comportamento.

Em mil novecentos e oitenta e oito (1988) quis a Assembléia Constituinte tornar crime a caça. Sim a velha e atávica caça. Revogou leis que regulavam a caça tornando-a legal, e pum... ilegalidade, clandestinalidade, marginalidade, e outras "dades".

Eu Caçador atávico fui mudado em ... marginal atávico, pooodchee!?

Mantive a prática desse crime inafiançável em minha pátria, até o dia sete de janeiro de dois mil e três (7/01/03) quando algo realmente concreto aconteceu e me fez mudar de comportamento dentro do limite territorial do meu Brasil varonil.

Seguinte é este:

Ao voltar de uma esperada de cutia em um local que não ia há bastante tempo (por sinal ali havia em abundância e não mais existem em função da intensa caça excessivamente predatória com cachorros) deparei-me com um grupo de caçadores com cachorro e conversa vai conversa vem notei um grande interesse por dois deles em minha arma-de-caça, que foi feita por um armeiro, há mais de vinte e cinco anos, especialmente para mim.

Meio "cabreiro" não me separei dela de jeito maneira, e "disfarçando" me mandei o mais rápido que pude, sempre sob os olhares da dupla.

Ao chegar a casa do roceiro onde sempre me hospedara, notei uma certa apreensão no ar e conversa vai conversa vem fui informado que dentre aqueles caçadores e como novos freqüentadores assíduos, havia três almas sebosas com inúmeras passagens pelas delegacias, cadeias e "SPAs" do gênero.

Aí, Cara, somente aí... a ficha caiu!

Eu, educador (sei que a culpa é totalmente minha) aposentado, com mais de quarenta anos de serviços prestados à juventude do nosso Brasil varonil, tendo por colegas de esporte marginais de carteirinha, credo!!!

Dado o exposto fui compelido a aceitar o que está escrito no Capítulo VI da C.F., no Art. 225 no seu inciso VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade, e regulamentada pela Lei 7653/88 que no seu Art. 34 torna a caça crime inafiançável.

Tomei consciência que não adiantaram os dezessete anos de ilegalidade; não adiantaram as ausências dos meus amigos, Caçadores atávicos, que aprenderam bem antes de mim e tidos, por mim, como um "bando de covardes"; nem conselhos de familiares... nada; o que valeu foi o tratamento de choque desencadeado pelo inusitado encontro.

Até aquele momento tudo a mim, se afigurava como algo abstrato, por demais abstrato (e de uma arbitrariedade incomensurável) até que aquele grupo de colegas se fizesse concreto, por demais concreto.

Agora sim aprendi e...

Por fim a ficha caiu,

no meu Brasil varonil,

Ai, ai,

sou um... convicto, e priu.

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