Há de se convir que o ser vivo sempre aprende e, a partir do momento
da aprendizagem, muda seu comportamento até que haja nova aprendizagem,
e com uma outra mudança de comportamento etc., etc.,...
Para que se aprenda algo e conseqüentemente mude-se o comportamento muitos
fatores contribuem, mas o mais "definitivo" é o... experimentar
concretamente. (Pelo menos para mim é assim que funciona).
Conselhos, admoestações, ameaças, imposições,
códigos, leis, são item destinados a informar ao indivíduo
como ele deve se portar diante das situações que se apresentam,
entretanto sem algo concreto, palpável, de nada adianta: Não muda-se
o comportamento.
Em mil novecentos e oitenta e oito (1988) quis a Assembléia Constituinte
tornar crime a caça. Sim a velha e atávica caça. Revogou
leis que regulavam a caça tornando-a legal, e pum... ilegalidade, clandestinalidade,
marginalidade, e outras "dades".
Eu Caçador atávico fui mudado em ... marginal atávico,
pooodchee!?
Mantive a prática desse crime inafiançável em minha pátria,
até o dia sete de janeiro de dois mil e três (7/01/03) quando algo
realmente concreto aconteceu e me fez mudar de comportamento dentro do limite
territorial do meu Brasil varonil.
Seguinte é este:
Ao voltar de uma esperada de cutia em um local que não ia há bastante
tempo (por sinal ali havia em abundância e não mais existem em
função da intensa caça excessivamente predatória
com cachorros) deparei-me com um grupo de caçadores com cachorro e conversa
vai conversa vem notei um grande interesse por dois deles em minha arma-de-caça,
que foi feita por um armeiro, há mais de vinte e cinco anos, especialmente
para mim.
Meio "cabreiro" não me separei dela de jeito maneira, e "disfarçando"
me mandei o mais rápido que pude, sempre sob os olhares da dupla.
Ao chegar a casa do roceiro onde sempre me hospedara, notei uma certa apreensão
no ar e conversa vai conversa vem fui informado que dentre aqueles caçadores
e como novos freqüentadores assíduos, havia três almas sebosas
com inúmeras passagens pelas delegacias, cadeias e "SPAs" do
gênero.
Aí, Cara, somente aí... a ficha caiu!
Eu, educador (sei que a culpa é totalmente minha) aposentado, com mais
de quarenta anos de serviços prestados à juventude do nosso Brasil
varonil, tendo por colegas de esporte marginais de carteirinha, credo!!!
Dado o exposto fui compelido a aceitar o que está escrito no Capítulo
VI da C.F., no Art. 225 no seu inciso VII - proteger a fauna e a flora, vedadas,
na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam
os animais à crueldade, e regulamentada pela Lei 7653/88 que no seu Art.
34 torna a caça crime inafiançável.
Tomei consciência que não adiantaram os dezessete anos de ilegalidade;
não adiantaram as ausências dos meus amigos, Caçadores atávicos,
que aprenderam bem antes de mim e tidos, por mim, como um "bando de covardes";
nem conselhos de familiares... nada; o que valeu foi o tratamento de choque
desencadeado pelo inusitado encontro.
Até aquele momento tudo a mim, se afigurava como algo abstrato, por demais
abstrato (e de uma arbitrariedade incomensurável) até que aquele
grupo de colegas se fizesse concreto, por demais concreto.
Agora sim aprendi e...
Por fim a ficha caiu,
no meu Brasil varonil,
Ai, ai,
sou um... convicto, e priu.