A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Cultura do Chifre

(Géber Romano Accioly)

Faz-se necessário para o "multiplicai e enchei a terra", entre os que dependem da reprodução sexuada, haver a união (não importando o método) entre elementos de sexo físico oposto, isto é, um macho e uma fêmea, e essa necessidade é condição sine qua non.

Preconizam os usos e costumes de todas as civilizações, que se formem pares ou grupos com uma certa estabilidade e duração para que este objetivo seja atingido a contento.

No par ou grupo deve haver durante o tempo que perduram, um certo comprometimento entre os elementos que o formam para que seja estabelecido um vínculo de confiança mútuo e à quebra dessa confiança é dado o nome de... Chifre.

Cada civilização se baseia em normas e preceitos que têm invariavelmente, o alicerce em conceitos transcendentais, agrupados no que se convencionou chamar Preceitos Sagrados, pois emanam de uma deidade.

A maneira como essa deidade se formou e se apresenta varia de civilização para civilização e dentro de cada uma delas ainda pode sofrer alterações locais, entretanto no geral, há consenso.

Apenas como exemplos (sem nada a ter com as deidades e no fim... quem sabe!?):

a) Excelente pintor: Sabe tudo de cor, luz, sombra, desenho perfeito ao que se propõe... Velásquez;

b) Péssimo pintor: Nada sabe de cor, luz, sombra, desenho imperfeito ao que se propõe... Picasso.

Entretanto, ambos são... Gênios.

A mutabilidade é o que rege os conceitos, usos e costumes, etc.: O que foi será ou o que foi não será. Tudo vai depender de época, domínios, preferências...

Geneticamente não há o "Chifre" e sim a necessidade atávica de ter a melhor e mais capaz prole. Tanto o macho como a fêmea eles procuram o melhor par com o fito de produzirem o melhor descendente possível.

Há civilizações que não existe o "Chifre" por o macho ser livre para ter muitas fêmeas, ou as fêmeas por formação, pertencerem a um macho e nem cogitam em chifrar, ou que se unem conscientemente sabendo que estabeleceram um vínculo de confiança mutua inquebrantável.

Sobre essas civilizações apenas tenho conhecimento superficial e não vou me deter, entretanto na civilização cristã, i. e., a que adota Jesus, o Cristo, como divindade... é comigo mesmo!

O "Chifre" no Cristianismo, é tão natural como o defecar. Uso este exemplo mal cheiroso por ser igual ao "chifrar": Todo mundo realiza o ato, contudo ninguém gosta de falar nem tampouco quer ser visto durante a "realização".

Há uma sutileza aceita por todos, (inclusive de uso e costume e até legal) que é a de considerar "chifrar de verdade" se ele for colocado pela COMPANHEIRA INFIEL, se for pelo companheiro infiel é feito transporte alternativo: "Contravenção tolerável" e pecadinho perdoável.

Todo parceiro que tem consciência de estar sendo chifrado "leva numa boa" contanto que sempre pense que ninguém mais sabe que ele sabe, principalmente a parceira.

Há uma piada/exemplo que é mais ou menos assim: "Entre levar chifre de uma "uva", e não levar de um "abacaxi" é melhor levar, pois é bem melhor comer um prato de morangos com os amigos que um de merda sozinho"

A partir do momento que o parceiro sabe que seu "segredinho conjugal" tornou-se público há duas possibilidades:

a) Ou continua a fingir que não sabe e se torna um corno convencido (com variações tipo: Papai Noel [não saio para não traumatizar as crianças]) e outros sobejamente catalogados;

b) Ou entorna o caldo de vez, e até às vezes mata o sedutor de sua fiel, pudica, pudibunda e sacrossanta parceira. Raramente volta seu furor contra ela.

Cabe aqui uma reflexão para os sapiens que evoluíram dos primatas (não os do Éden): As nossas ancestrais simiescas tinham por hábito acasalar com vários machos (sem que um soubesse do outro, of corse!) para garantir o mais forte rebento (armazenavam o esperma internamente selecionando o melhor) e para que ao nascer o filhote, TODOS os machos assumissem a paternidade e garantissem sua segurança e sobrevivência. Nesse caso o chifre entre as sapiens é atávico e, portanto a parceira "não é lá tão culpada".

Por que o chifre tornou-se tão natural e corriqueiro na civilização cristã? Por que aceitamos com naturalidade o provérbio: Filhos de minhas FILHAS meus netos são, de meus FILHOS serão ou não? Por que dizemos que mulher que anda "na linha" o trem pega? Por que as parceiras mais fiéis são as mais mentirosas? Conceitos transcendentais? Aí, a porca destorce o rabo!

Na região amazônica há uma justificativa entre os povos da floresta, (e até outros que a margeiam) para o chifre "regulamentado e sacramentado" que causa espanto: Quando a mulher aparece grávida estando o parceiro impedido, (geralmente por longa ausência) ou quando ele não é conhecido, "ajeita-se as coisas" culpando-se o sedutor BOTO. Justificativa plausível e perfeitamente aceita. É uma justificativa transcendental, isto é, transcendentalismo emersiano puro.

Na civilização grega (berço de muitos conceitos da cristã) o seu deus maior, Zeus, quando queria das suas "escapulidinhas" virava bicho (literalmente), pois para enfeitar Tíndaro mudado em Cisne, deu uma "cisnada" com Leda; mudado em Touro deu uma "chifrada" com Europa que depois de morta virou deusa/santa. Todos esses transcendentais chifres eram perfeitamente aceitos pelos gregos. Os seus deuses via de regra, nasciam sob uma aura de mistério, puro transcendentalismo.

Qual o por quê de tanta normalidade quanto ao chifre?

Meus dois diabólicos neurônios Tico e Teco estão confabulando e induzindo-me a um questionamento/resposta que bem poderia se encaixar como a resposta procurada.

Se Botos, Cisnes, Touros botam chifres transcendentais que geram nascimentos misteriosos de mortais e deuses, por que o mesmo não pode acontecer com uma POMBA?!

Não uma Pomba qualquer, mas uma Pomba divina, isto é, um Espírito Divino que tudo pode mudado em Pomba. E se essa Pomba divina desse uma "pombada" em uma virgem santa esposa poderia nascer um deus, com toda certeza.

Sendo o deus maior da civilização cristã o produto de um transcendental chifrada, ou melhor, de uma transcendental pombada, estaria plenamente justificado se uma simples "sapiens mortal" de vez em quando, se espelhando no sagrado exemplo da Santa Mãe, enfeitasse o seu parceiro.

Depois de ter sido induzido pelos meus dois diabólicos neurônios a escrever este texto e dar esta plausível resposta, mas... "um tanto quanto sei lá entendchee", fico a duvidar se eu e até os da minha quinta descendência teremos por herança as celestiais moradas. Teremos!?!?!?

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