"Filhos de minhas filhas meus netos são,
mas de meus filhos serão ou não."
Quando os anos vão se acumulando e as expectativas se dissipando podemos,
nós os avôs, perceber com mais clareza o que achávamos ser
perfeitamente claro. E este é o caso da verdade expressa em o aforismo
que serve de intertexto para este comentário.
A citação em apreço, é para todas as avós,
uma verdade inconteste.
Para os avôs do meu tipo, também, mas, para muitos avôs,
haverá sempre uma inquietante possibilidade de a verdade não ser
verdadeira. Tivemos, eu e meu avô, a certeza de que nenhuma dúvida
pairava sobre o assunto da citação em pauta.
Para a quase totalidade de nós, os netos, de um modo ou de outro o nosso
avô foi nosso ídolo. Talvez por ter tido mais tempo ou por tornar
concreto o: "Casa de avô, chiqueiro de neto".
O som do vocábulo "avô" é mais bando aos ouvidos
que o do de "pai". E se for mudado para "dindo" ou "voinho"
ou "beô" não tem nem graça... Verdadeiro massacre!
Ser avô é ter a capacidade e o dever de proporcionar ao neto os
melhores momentos de felicidade. Momentos que nunca serão esquecidos.
Momentos que vêm atavicamente de uma memória ancestral e que se
somarão a outros momentos e, tal qual bola de neve, montanha abaixo,
sempre hão de aumentar.
Ser avô é ter a capacidade de criar a fantasia que se faz necessária
para que o neto suporte a dura realidade da cotidiana luta pela sobrevivência.
Ser avô é ter a capacidade de mentir falando a verdade e de falar
a verdade mentindo.
Ser avô é ter a capacidade de se tornar necessário e eternamente
presente.
Ser avô é ter a capacidade de ser avô e ser ídolo
ou avô/ídolo, isto é, "avôdolo" e ce fini
e priu.