A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Avôdolo

(Géber Romano Accioly)

"Filhos de minhas filhas meus netos são,
mas de meus filhos serão ou não.
"

Quando os anos vão se acumulando e as expectativas se dissipando podemos, nós os avôs, perceber com mais clareza o que achávamos ser perfeitamente claro. E este é o caso da verdade expressa em o aforismo que serve de intertexto para este comentário.

A citação em apreço, é para todas as avós, uma verdade inconteste.
Para os avôs do meu tipo, também, mas, para muitos avôs, haverá sempre uma inquietante possibilidade de a verdade não ser verdadeira. Tivemos, eu e meu avô, a certeza de que nenhuma dúvida pairava sobre o assunto da citação em pauta.

Para a quase totalidade de nós, os netos, de um modo ou de outro o nosso avô foi nosso ídolo. Talvez por ter tido mais tempo ou por tornar concreto o: "Casa de avô, chiqueiro de neto".
O som do vocábulo "avô" é mais bando aos ouvidos que o do de "pai". E se for mudado para "dindo" ou "voinho" ou "beô" não tem nem graça... Verdadeiro massacre!

Ser avô é ter a capacidade e o dever de proporcionar ao neto os melhores momentos de felicidade. Momentos que nunca serão esquecidos. Momentos que vêm atavicamente de uma memória ancestral e que se somarão a outros momentos e, tal qual bola de neve, montanha abaixo, sempre hão de aumentar.
Ser avô é ter a capacidade de criar a fantasia que se faz necessária para que o neto suporte a dura realidade da cotidiana luta pela sobrevivência.
Ser avô é ter a capacidade de mentir falando a verdade e de falar a verdade mentindo.
Ser avô é ter a capacidade de se tornar necessário e eternamente presente.
Ser avô é ter a capacidade de ser avô e ser ídolo ou avô/ídolo, isto é, "avôdolo" e ce fini e priu.

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente