Pejorativo, mesmo em tom de brincadeira, ouve-se isto até em programas
de humor. Alem de transmitir a idéia de que, pessoas cuja juventude cronológica
tenha se ido, tornam-se dispensáveis ao convívio social prazeroso,
a frase que dá o título a este texto pode veicular junto, a idéia
de que museus são depósitos, do que um dia já teve utilidade.
Para o senso comum talvez sejam estabelecimentos por onde corremos um olhar
apenas superficial. Curioso olhar até, para muita gente, porem sem uma
possível interatividade ou aprendizados/descobertas Acredito seja este
o conceito/idéia de museu que se pré-estabeleceu na mente de boa
parte da população.
Ao contrário, museus são, para pessoas que estudam, para crianças,
para gente culta, para escritores, artistas, jornalistas, cientistas, para todo
o povo, um dos lugares mais valiosos que possui uma sociedade.
Neste (14 de outubro) sábado passado, Laguna comemorou o cinqüentenário
da fundação do Museu Anita Garibaldi .
No livro "Guia dos Museus do Brasil" de Fernanda de Camargo e Almeida,
lançado em 1972 (RJ -Ed.Expressão e Cultura),também constam
alguns dados do nosso museu dentre os quais citarei apenas dois itens .
- Criado pela lei municipal número 222, de 15 de outubro de 1956.
- Acervo : Armas, móveis, documentos históricos, artefatos indígenas,
etc.
Não resta dúvida que a visitação de estudantes
a um museu como este que existe em Laguna, requer a companhia de professores
de história, ou de museólogo no caso de turistas, para que aconteça
um bom aproveitamento, a fruição e um real aprendizado.
Em nossa cidade e exatamente no prédio onde hoje funciona o museu, foi
proclamada a República Juliana, fato ligado à histórica
revolta farroupilha e à lagunense Anita Garibaldi.
Tive a oportunidade de conhecer recentemente, o escritor, professor e historiador
Viegas Fernandes da Costa que freqüenta assìduamente os museus em
Laguna. Tive também o prazer de acompanhar pessoalmente, no ano passado,
em visita ao Museu Anita Garibaldi a escritora e historiadora Urda Klueger .
Ela vem anualmente também, com a equipe da arqueóloga carioca
Madu Gaspar, pesquisar os povos sambaquianos na região do Camacho, Farol
e Jaguaruna. Esses locais, são verdadeiros santuários para o estudo
do Povo das Conchas conforme descreve Urda Alice Klueger em seu livro para-didático
lançado no ano passado.
Ainda na obra "Guia dos museus do Brasil" que traz mensagem de Hugues
de Varine-Bohan francês e à época, diretor do Conselho Internacional
de Museus, lê-se :
"O museu é o espelho onde o homem se reconhece no meio da natureza
que ele formou e transformou, no seio da comunidade social - local, nacional
e universal - que condiciona sua existência material, intelectual e espiritual,
em relação às coisas que ele colhe, produz, consome.
Nenhum museu é total. O homem deve procurar encontrar-se em todos, reconstituir
pacientemente sua própria natureza e sua própria cultura partindo
de objetos, de espécimes, de obras de arte de todas as origens, a fim
de prosseguir com continuidade e tenacidade sua obra criadora"
Na definição de museu, pelo Conselho Internacional de Museus,
que consta na obra pesquisada e organizada por Fernanda de Camargo e Almeida
, estão incluídos: "parques naturais,locais arqueológicos,
jardins botânicos, aquários, vivários e outras instituições,
assim como locais históricos e naturais(...)"
É por estes povos que aqui viveram, é por estes cientistas que
aqui vem pesquisar, que o povo lagunense, desde os estudantes até os
mais humildes que vivem na periferia da cidade, o povo da região rural
e os que lidam com a vida marinha, precisam saber que esta riqueza lhes pertence.
Que esta terra tem muito valor e, sobretudo necessário se faz, exijamos
daqueles que elegemos, o máximo de zelo para com o que nos pertence,
e por conseguinte à humanidade.
Ao lagunense Oswaldo Rodrigues Cabral, referência no país como
historiador, devemos muitas das informações históricas
que chegaram até nós.
Aos pesquisadores contemporâneos como Antonio Carlos Marega, devemos muito
pelo empenho cotidiano em elucidar e pesquisar sempre mais, a história.
Marega, como é carinhosamente conhecido na cidade, está com freqüência
ministrando aulas a céu aberto, a quem o solicita encontrando-o pelas
ruas ou mesmo procurando-o para saber detalhes da historia do tricentenário
museu que é, na verdade, toda a cidade de LAGUNA aqui em SANTA CATARINA.
Não posso deixar de cumprimentar hoje, dentro deste tema, a professora
de história Eliana P. Reinaldo que com muito entusiasmo deu sua contribuição
à pesquisa histórica no recente bicentenário de Jerônimo
Coelho, o criador do primeiro jornal em Santa Catarina e portanto, patrono da
imprensa catarinense. Em 1845 enquanto ministro da Guerra ele reorganizou o
Imperial Observatório do Rio de Janeiro impulsionando em muito a engenharia
brasileira. Vale a pena conhecer melhor empreendedores da estatura de Jeronimo
Francisco Coelho.
Professora Eliana idealizou (junto ao diretor, funcionários, alunos e
colegas), e realizou excelente exposição com muitas peças
antigas, textos e o mais importante, o envolvimento das crianças. Os
alunos alem de trabalhos em desenho e pintura foram orientados para acompanharem
e descreverem aos visitantes cada fase da vida de Jeronimo Coelho que ia sendo
narrada e mostrada em cada sala de aula.
À Escola Jeronimo Coelho, sugiro uma reedição, quem sabe
ao final do ano letivo, uma reapresentação, deste educativo projeto
de história e cultura que soube proporcionar aos alunos, e à Santa
Catarina.
Museus, escolas e sobretudo os professores (estes os propulsores indispensáveis),
são valores onde nós os pais, depositamos as maiores esperanças.
Pena que os governantes não incentivem o magistério, na devida,
merecida e necessária proporção.
(Laguna, 19 de outubro de 2006)