Garanto que vocês conhecem a clássica história infantil,
"O flautista de Hamelin" dos irmãos Jacob e Wilhelm
Grimm. Pois em Hamelin apareceu um flautista prometendo acabar com uma invasão
de ratos que havia na cidade. Acertado o preço o tocador de flauta conseguiu,
tocando lindamente seu instrumento, fazer com que todos os ratos da cidade o
seguissem para muito longe dali. Dessa forma, os cidadãos hamelinenses
viram-se livres da praga.
Aqui em Santa Catarina, numa escola foram jogados numa fogueira, inúmeros
livros. A população protestou de várias formas e recebeu
a explicação que os livros estavam em local, onde ùltimamente,
haviam muitos ratos transitando, o que poderia gerar casos de lepstospirose
nas crianças, que em busca de leitura manuseassem aquelas obras.
O fato fez-me lembrar de duas coleções de revistas sobre cães.
Eu assinara uma e comprava mensalmente na banca, a outra, aliás pedia
`a minha cunhada para comprar, na capital.Enquanto não engravidei tinha
tempo e prazer em saber das melhores maneiras de cuidar de nossos cães.
Aquelas revistas eram muito interessantes. Um dia notei que elas consumiam-se
na fogueira que meu marido fizera. Guardara minhas pilhas de revistas cujo tema
eram cachorros, em prateleiras na área de serviço onde justamente
várias mamães camundongos, acharam o lugar ideal para gerar suas
proles...
Na dúvida, meu marido preferiu eliminar os riscos das doenças
que os ratos transmitem e queimou minha "biblioteca canina". Senti
falta das revistas e passamos a colocar mais uma porta (esta só com telas),
em todas as portas e janelas da área de serviço, e a moda pegou
na casa inteira.
Naquela época morávamos com o muro fazendo limite a uma escola
onde diàriamente os roedores encontravam alguma coisa para se alimentar.
Em colégios se faz merenda e, sempre há resíduos que ficam,
ou lixeiras que aguardam o recolhimento programado. Sempre que iniciavam as
férias, os ratos passavam a invadir os quintais vizinhos o que nos levou
a usar ratoeiras e raticidas em locais onde nossos cães não alcançassem.
Quando um povo é culto e possui meios financeiros, sempre procura dotar
as escolas de boas bibliotecas. Quando o poder público é atento
aos que possuem o conhecimento e dá ouvidos aos que escrevem livros,
aos que estudam, procura através de verbas e profissionais como engenheiros,
bibliotecários, professores, médicos, administradores enfim gente
com condições de conhecimentos e meios materiais para projetar
e realizar o melhor para os leitores de uma biblioteca escolar.
Os livros de papel, apesar dos avanços da informática ainda são
a melhor maneira de tornar nossos filhos seres independentes. Uma boa biblioteca,
cuidada por pessoa que tenha carinho e valorize o patrimônio, é
um dos bons indicadores do nível de cultura de uma instituição
escolar.
Já na pré-escola é necessário que talentosas educadoras
ensinem a uma pequenina criança que a primeira coisa a fazer antes de
pegar um, aparentemente insignificante livro infantil, é lavar bem suas
mãozinhas com água e sabão. Lá em Hamelin, segundo
a lenda, o flautista não recebeu o pagamento pelo seu trabalho e vingou-se
tocando mais lindo ainda e, desta vez foram todas as crianças que o seguiram.
A cidade livrou-se da praga dos ratos e tornou-se o lugar mais triste do mundo
porque não havia crianças.
Queimar nossos livros por estarem à mercê dos ratos dá uma
idéia de retrocesso, de atraso de vida. Estamos por certo, precisando
de um remédio com o poder do flautista de Hamelin em muitos lugares deste
país. Há ratos. E ratos. De todo tipo.
Se não tivermos muitos livros para encantarmos nossas crianças
elas seguirão para longe de nós. É que pelas ruas existem
muitos falsos flautistas que estão levando jovens e crianças para
falsos paraísos, onde o que os espera é o vício, a violência
e o crime.
(Dezembro de 2006)