Alô Dona Marisa Letícia!
Aqui é a Fátima de Laguna, uma grande porém modesta desconhecida
sua.
Lógico pois, aqui ao sul de Santa Catarina, tem trocentas Fátimas!
Mas garanto que aqui em casa sou a única a reinar! Estou escrevendo esta
cartinha para a senhora porque há uns vinte dias andei lendo uma que
a Danuza também escreveu.
Se a capixaba Danuza pode, eu também quero escrever-lhe uma carta!
Na verdade, gostava e gosto muito mesmo é da Nara, a irmã da Danuza.
Aquela doçura! Voz de tão suave timbre e afinadamente musical
por natureza.
Sabe Dona Marisa, a Danuza deve ter peculiares motivos para escrever-lhe, e
a senhora como primeira dama por sua vez, deve ter lido coisas que até
Deus duvida.
Sou Maria Ninguém, mas no momento não quero emprego. É,
só louco para dizer que não quer emprego, mas o que não
quero mesmo é trabalho.
Sabe o que é? É que já fui professora (da escola pública
por sinal, e vivia nas quadras, nas pistas, caixas de saltos, salas de dança),
cumpri minha parte e aposentei-me. Trabalhar com nossos jovens é uma
das experiências mais belas, principalmente numa cidade pequena. Depois
eles ficam moços e moças tão lindos e continuam nos chamando
de tia.
Bom, sempre gostei de ler e quando Danuza lançou "Na Sala com Danuza"
eu comprei, li inclusive da Constanza Pascolato " O Essencial", e
também algo de Glória Khalil . A senhora já sacou que não
adquiri essas obras com meu salário, é lógico, só
estou explicando que não andava 365 dias por ano de tênis e abrigo
esportivo, eu também interessava-me por conhecer, o que as mulheres chiques
pensavam. Inclusive interesso-me em saber o que pensam os homens, tanto os poetas,
quanto os cientistas, quanto os que me vendem peixe, os que me transportam de
táxi, os que consertam meus eletrodomésticos... e até com
os bebuns da cidade eu converso. Interesso-me muito em saber o que meu marido
pensa, e procuro trocar idéias com ele . Trocar idéias com o marido,
convenhamos é de grande importância mas haja tempo e, em tempo
real recíproco!
Bom, já estou fugindo do assunto, o que queria mesmo dizer, era o que
concluí, depois de muito matutar, ler e reler aquela crônica "Carta
a d. Marisa" no início de novembro na Folha de São Paulo,
descobri: faltou assunto para a Danuza, daí ela escreveu para a senhora!
Sugiro que Danuza escreva também para Luiza Erundina, Marilena Chauí,
Rose Marie Muraro, e outras tantas mulheres, mais ou menos notáveis.
Garanto que essas senhoras (assim conforme presumo que a senhora Dona Marisa
tenha feito), não terão tempo em suas agendas para responder à
colunista, mas quem sabe eu fique inspirada e vá rolando um papo onde
consigamos provocar uma virtual conversa informativa, bem humorada, de repente
brota um livro tipo assim:
"Na feirinha com a galera", ah! sei lá, título é
que não vai faltar!
O bom mesmo é que a famosa cronista da Folha forneceu mote ao texto que
eu precisava escrever.
Ah! Também adoro fotografar!
Bom, ta ficando tarde, e agora preciso ver as mais de 200 fotos que fiz na linda
festa açoriana que aconteceu aqui em Laguna na segunda quinzena de novembro.
Um dos troféus açorianidade o Ilha das Flores, que sempre é
destinado a um artista plástico, este ano contemplou o Richard Calil
Bulos, artista naif que muito nos orgulha em Laguna e no Brasil.
O Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa
Catarina, a Secretaria de Cultura de Laguna e inúmeras cidades com raízes
açorianas realizaram em conjunto, bonita e cultural festa na nossa cidade.
O evento de nome AçOR teve neste ano sua décima terceira edição,
e Laguna foi a escolhida da vez. Foram momentos de muita poesia, congraçamento
e alegria em forma de artesanato, gastronomia e danças típicas
baseadas no arquipélago açoriano.
Quem nos visitou recentemente, foi Sua Excelência a Senhora Patrícia
Carla Dourado Gaspar - Cônsul de Portugal.
Muito agradáveis, ela e seu marido. Percebemos o quanto acharam bela
nossa, de invejável historicidade, Igreja de Santo Antonio do Anjos,
na missa em ação de graças. Exodus, Panis Angelicus, Ave
Maria de Gounod, etc, apresentados pelo Coral Santo Antonio, de fato encantaram
a todos, como sempre acontece. No adro da matriz, perfilados estavam os componentes
da Sociedade Musical União dos Artistas, a mais antiga banda musical
do Brasil com 146 anos de existência.
Por falar em missa, estava deveras contagiante a missa açoriana, celebrada
na programação do décimo terceiro AçOR. A matriz
estava lotada de delegações com suas bandeiras do Divino, respectivos
músicos e cantadores. Emocionante e alegre evento que tive o prazer de
fotografar e compartir na fé açoriana, que também me atinge
.
Agora, peço desculpas por tamanha audácia, Dona Marisa, por escrever-lhe
e à Senhora também Danuza, por inspirar-me em seu texto.
Mas a vida é assim mesmo, somos todos células de um só
tecido social. Há Marisas que interagem com Danuzas, que interagem com
Fátimas que curtem versos cruzesousanos, a quem por certo d'além
mar, foram inspiradores os lusitanos.
Que coincidência, escrevendo esta cartinha madrugada adentro, lembro que
a 25 deste penúltimo mês do ano, reverenciamos Santa Catarina de
Alexandria!
A Santa invocada como protetora, pelos estudantes, intelectuais e filósofos,
honra a todos nós catarinenses que a escolhemos para nomear o Estado.
Na Ilha que também leva seu nome , está localizada a cidade de
Florianópolis, nossa capital. Viva Santa Catarina! Vivam os ilhéus
açorianos que nos trouxeram este jeito, este cheiro de mar. MAR onde
sempre preciso será navegar. Terra catarinense onde é preciso
viver... para poder navegar.