Abril é um ramo de flores brotando da terra fria - como o amor, brotando
do coração quando já se pensava ser tarde demais para começar
outra vez o jogo da vida.
Abril é a vívida memória de meu David, nascido no Dia dos
Namorados - Valentine's Day - saindo para passear em seu carrinho, todo agasalhado
contra o vento, grandes olhos azuis aprendendo pela primeira vez como são
as cores do mundo lá fora.
Abril é uma amiga de meus tempos de adolescente - cabelos loiros cintilantes,
constante sorriso no rosto sardento. Abril queria ser missionária. Ela
sempre tinha buracos na sola do sapato e uma carícia nas mãos.
Eu gostava de Abril.
Abril é também meu tempo de espera. Sentada ao sol em um lindo
jardim, atrás de altos muros, já de volta em São Paulo.
Esperando por outro bebê, por uma carta de alguém distante (que
nunca chegou), pela coragem de romper elos aprisionantes.
Abril é o tempo de reunir a família para Pessah. Limpar a casa,
trazer o especial serviço de jantar, os brancos e dourados ornamentos,
a baixela de prata, o pão matzah - \"Pappa... Por que esta noite
é diferente de todas as outras noites?\"
Por que Abril é diferente de todos os outros meses? Porque em Abril,
criança, a poderosa mão do Eterno partiu as águas do Mar
dos Juncos (o Mar Vermelho) - a fim de que para sempre estivéssemos seguros
de que, aconteça o que acontecer, outro Abril sempre chegará,
trazendo-nos a certeza da liberdade e da esperança.